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3 de mai. de 2008

BNDES assaltado


No momento em que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ganha força no estratégico papel de fomentador do crescimento do país, com orçamento recorde estimado em R$ 80 bilhões, os brasileiros tomam conhecimento da existência de quadrilha operando
No momento em que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ganha força no estratégico papel de fomentador do crescimento do país, com orçamento recorde estimado em R$ 80 bilhões, os brasileiros tomam conhecimento da existência de quadrilha operando na estatal. O atrativo para os bandidos é tão grande que a lógica deles é a de que, mesmo roubando menos, compensa. A desfaçatez foi explicada a um interlocutor não identificado, em conversa telefônica gravada pela Polícia Federal, pelo empresário Manuel Fernandes de Bastos Filho (dono de construtora e boate), apontado como um dos intermediários na captação de projetos. "A porcentagem é baixa, de 3% ou 4%, mas o volume é alto", disse. Ao todo, a Operação Tereza, da PF, inicialmente destinada a investigar prostituição e tráfico de mulheres, identificou desvios em financiamentos de R$ 350 milhões: R$ 130 milhões para a Prefeitura de Praia Grande, no litoral paulista, e R$ 220 milhões para a rede varejista Lojas Marisa. Estaria envolvido um dos advogados mais conhecidos do país, Ricardo Tosto, membro do Conselho de Administração do banco. Preso junto com 10 pessoas, ele teve a prisão revogada pela Justiça e foi internado em São Paulo com arritmia cardíaca. O esquema ainda incluiria pelo menos seis políticos, cuja investigação é prejudicada pela lei, pois ocupantes de cargos eletivos têm direito a foro privilegiado (o Supremo Tribunal Federal para deputados e senadores e o Superior Tribunal de Justiça para prefeitos).Porta arrombada, o BNDES anunciou a suspensão da liberação de recursos relativos às duas operações de empréstimo. Prometeu colaborar com as investigações. Avisou à sociedade, em especial a autoridades públicas e empresários, que não credencia nem incentiva a participação de intermediários para aprovar projetos ou liberar dinheiro na instituição. Comunicou não haver indícios de envolvimento de funcionários ou diretores nas fraudes. Mesmo assim, teve o cuidado de não descartar a realização de sindicância interna. Todas as providências, contudo, estão restritas aos escândalos trazidos à tona quase ao acaso, vez que a quadrilha entrou no caminho da PF ao usar um prostíbulo na capital paulista para lavar o dinheiro das propinas. A questão é: que garantia o brasileiro pode ter de que o banco não é ou está prestes a se transformar num bilionário sumidouro de dinheiro público? Presidente da instituição, o economista Luciano Coutinho parece demasiadamente tranqüilo. "A gente faz o possível, mas, a partir de determinado ponto, podem acontecer fraudes que estão além da nossa capacidade", diz. Ora, o BNDES tem mais de R$ 100 bilhões em projetos já enquadrados, outro tanto em consulta, "uma montanha", como definiu o dirigente. É o principal indutor do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Só na área de saneamento, triplicou os desembolsos. O país tem pressa na liberação, mas também precisa ter a certeza de que o dinheiro não vá parar no bolso de uma dúzia de salafrários, mas seja aplicado no fornecimento de água potável, tratamento de esgoto, rodovias, ferrovias, fábricas, na geração de emprego e renda, enfim, em benefício de todos os contribuintes.
Fonte:Correio Braziliense

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